Entrevista: duas importantes ações da prefeitura.

Tive hoje a oportunidade de conversar com a Fabíola Cidral, excelente apresentadora do jornal CBN São Paulo, sobre duas ações bastante sintomáticas da nova postura que a prefeitura vem adotando na condução da cidade.

A primeira era sobre o anúncio de que a prefeitura irá cobrar de maneira mais organizada e sistemática compensações dos grandes empreendimentos em relação aos impactos que causam no trânsito: colocação de semáforos, alargamento de vias, construção de estacionamentos, enfim, tudo aquilo que o poder público tem a obrigação de cobrar, de maneira muito mais intensa do que se faz até hoje, de quem faz da produção da cidade um negócio, com todos os impactos que isso causa no espaço público.

Foi bom porque aproveitei para comentar o assunto das minhas duas últimas postagens: lembramos sempre dos impactos que tais empreendimentos causam no trânsito, mas nunca se fala de seus impactos na cadeia produtiva e na dinâmica pendular da cidade. Grandes empreendimentos geram milhares de empregos de menor remuneração, atraindo para eles toda uma população de renda baixa que, entretanto, não encontrará onde morar nas cercanias. Terá que encarar horas de transportes precários em viagens cotidianas entre moradia e trabalho, e acentuará ainda mais o colapso de mobilidade que a cidade enfrenta. Tudo isso porque nunca se pensa em fazer, junto com grandes empreendimentos, habitações paras a população de renda mais baixa. Nossa lógica de urbanização é segregadora e via de regra não tolera a imiscuição de pobres nos bairros ricos.

A segunda ação que comentamos tem justamente a ver com isso: a prefeitura estuda a desapropriação de antigos hotéis de luxo - muito propícios à reabilitação para fins de moradia social - abandonados há décadas na área central, e recentemente ocupados pelos movimentos de moradia no centro.

Foi importante lembrar que esses ex-hotéis não cumprem sua função social, e estão portanto em situação ilegal, quando não devem, ainda por cima, somas fabulosas de IPTU. Falei acima justamente do fato que se deve oferecer alternativas de moradia também para os mais pobres nas áreas da cidade com infraestrutura, e o centro é uma delas.  Desapropriar prédios abandonados para fazer moradia é uma ação comum em muitos países, em cidades como Nova Iorque ou Paris. Vale lembrar que, no Brasil, são cerca de 5 milhões de unidades habitacionais vazias nos centros de nossas cidades, para um déficit de habitações que gira em torno de....6 milhões!

Está clara portanto a importância do poder público municipal, em qualquer cidade, começar a encarar de frente o problema e enfrentar os especuladores, decretando a utilidade pública desses imóveis e promovendo sua desapropriação e transformação em moradia popular.

Ponto a favor da prefeitura, que começa a agir nesse sentido, independentemente de como evolua a tal política de PPP proposta pelo Governo do Estado na área central. 

E parabéns à Fabíola Cidral por trazer essas pautas importantes à grande mídia radiofônica.