"Poque é pobrema Moro falar mau" ou "Que diabo de concurso foi esse?"

O Brasil, ou parte dele, espantou-se recentemente ao ver o superministro do atual governo, o justiceiro Moro, escorregar repetidamente no português.

“Cônje” em vez de “cônjuge”, “sobre violenta emoção” em vez de “sob violenta emoção”, “rugas” em vez de “rusgas”, “haviam” para dizer “existiam”. Antes, já tínhamos tido direito a “Câmera Legislativa” e a “colheita de provas”. Essas foram as escorregadas públicas. Desconfio que os que têm o desprazer do convívio frequente ouçam outras pérolas com frequência.

Li na internet o óbvio comentário dos bolsominions de plantão: que Lula também erra no português (dito de forma menos elegante).

Há uma enrome diferença entre um e outro. Na verdade, é uma só: Lula foi eleito, Moro não.

Na política, mandatos eletivos dão à pessoa, pelo sufrágio dos votos, o direito de representá-las em alguma função, executiva ou legislativa. Se o sujeito fala bem, mal, se ele faz criança apontar arminha, se fala que estupro é normal e que a ditadura não existiu, paciência. O sujeito está lá pela vontade do povo, do jeito que ele é.

A rigor, um ministro está no meio do caminho. Ele não é eleito, mas indicado pelo eleito. Um presidente vindo das bases populares tem todo o direito, em seu mandato, de indicar quem ele achar melhor para o cargo, faz parte de suas prerrogativas. Mas, claro, espera-se de alguém em cargo de tão alta responsabilidade que tenha condições de exercê-lo. O bom português, porém, nem sempre é um indicativo disso. Em um país em que a educação ainda é um privilégio, achar que só pode exercer mandato que teve esse privilégio é de um tremendo elitismo.

Lula é um excelente exemplo de que não é preciso ter um bom português para ser um bom estadista, e o atual presidente nos dá exemplos de que nem todo ministro letrado é por isso capaz de levar adiante suas funções. Temos ministro que, apesar de excelente formação (o Instituto Rio Branco tem um dos mais difíceis concursos do país), propaga que nazismo foi de esquerda ou que o aquecimento global não existe. Paciência.

O problema de Moro ao errar no português não é ele ser ministro. O problema, é que ele é juiz. E não só juiz, como o juiz responsável pela provavelmente mais importante sentença política já ocorrida neste país.

Ora, em compensação, para ser juiz, o domínio da língua é sim prerrogativa fundamental. São centenas de leis, tratados jurídicos, acórdãos, decisões judiciais, etc. etc., que um juiz deve ler e entender, interpretar, decorara até, para exercer sua função. São famosas as sentenças judiciais que emanan erudição, às vezes até exagerada. Mas faz parte. Espera-se do juiz que seja capaz de lidar com a interpretação correta da nossa Constituição e das nossas leis, e para isso é fundamental ser capaz de lidar com o português, para proferir decisões corretas e, sobretudo, justas. Nossos juízes passam, por isso, por duríssimo concurso de seleção, e é bom que assim seja. Só isso, infelizmente, não garante juízes imparciais, como se viu com toda a turma do TRF-4 que julgou Lula em segunda instância, ou como vem sendo visto à profusão no STF.

O problema de Moro, portanto, é que Moro é um juiz. Que não domina sequer a sua própria língua, pelos erros crassos que comete reiteradamente. A pergunta que fica no ar é: qual terá sido esse concurso que o aprovou?

O segundo problema é que se um sujeito desses passou num concurso que o deixou exercer suas funções sem sequer dominar a língua portuguesa, o que dizer do linguajar jurídico e, portanto, de suas decisões? Um sujeito desses tem preparo para promover julgamentos complexos como os que ele recebeu na Lava-Jato? Será por isso que o processo contra Lula é repleto de imprecisões, inconsistências, erros, que foram apontados em livro por centenas de juristas, e que o TRF-4, composto de colegas próximos ao juiz (um inclusive dá aulas com ele), ignorou solenemente?

Um desastre para a reputação da Lava-Jato, que só não supera os vexames de Moro ter ido para o governo que ele beneficiou em sua sentença e de ter, com seus colegas promotores, conspirado para desviar mais de bilhão da Petrobrás para uma ONG própria.Isso nem foi vexame, aliás, foi crime mesmo.

Afinal, a pouca erudição do juiz justiceiro combina com a estranheza de seu currículo acadêmico Lattes (a plataforma informatizada na qual todo acadêmico brasileiro deve informar seu currículo) em que informava ter feito um Doutorado em dois anos (o correto é de 4 a 5 anos). O Professor Titular Marcos Cesar Danhoni, da UEM (Maringá), dedicou-se a analisar essas estranhezas (clique aqui para ler o artigo). Consta que o nosso superministro deveria, ao menos, corrigir uma informação em seu currículo, onde consta, no quesito “Idiomas”, para Português, que ele “compreende bem, fala bem, lê bem, escreve bem”.