Você ainda pensa em não votar no Haddad por causa da “roubalheira do PT”? Leia isto.

Como você se importa com a “roubalheira”, você é uma pessoa ética. Por isso, deve ter ficado assustado coma nova modalidade usada por Bolsonaro em sua campanha: a disseminação de qualquer mentira, as mais chocantes possíveis, disparadas aos milhões nas redes sociais e no whatsapp em esquemas de campanha obscuros, envolvendo financiamentos ilegais.

Mas esse é, infelizmente, apenas o nível mais baixo dessa estratégia de desconstrução permanente da verdade, com a sustentação das maiores e mais chocantes mentiras, a tal ponto que elas se tornem convincentes. E é de um tremendo cinismo a grande mídia  - Globo, UOL, Estadão, etc. -  mostrar algum espanto com isso. Pois, na verdade, o cenário político vem sendo moldado nos últimos anos em torno de uma tremenda fake new, e ninguém, até então mostrou-se assim tão chocado com isso. A fake new era a de que o PT instaurou a “maior roubalheira” que o país já viveu. Foram capas e capas de Vejas, falas e mais falas do Bonner na Globo, um massacre constante da mídia para fazer você acreditar nessa “verdade”.

A diferença com as fake news do Bolsonaro? Talvez somente o nível de baixeza. Mas o estrago para a democracia é o mesmo. E quem estava por trás disso? Aqueles partidos que haviam perdido, no voto democrático, para o PT, que se tornara o partido com maior sucesso econômico e político em décadas, com um Lula siando do governo com mais de 80% de aprovação e uma economia que crescia a passos largos. Era preciso frear isso, e como pelo voto parecia impossível, foi necessário pensar em outra coisa, no tapetão. Foi aí que começou a política das fake news, com a não aceitação por Aécio de sua derrota já no dia da apuração e a decisão de minar o mandato de Dilma Roussef e, portanto, toda a democracia.

Vamos começar com um exemplo: as pedaladas fiscais que levaram ao impeachment. Você tomou tempo para saber o que era essa figura complexa de gestão que os jornais botavam na sua cabeça? Que era o ato de adiantar dinheiro do próprio governo, do orçamento do ano seguinte (emprestando aos bancos públicos), para pagar as despesas com políticas sociais nos últimos meses do ano? Você sabia que isso era perfeitamente legal até 2013, e que até mesmo os peritos do Tribunal de Contas da União, que um belo dia resolveu “acusar” a Dilma desse “delito”, apresentaram laudo dizendo que não as tais “pedaladas” não haviam ocorrido da forma que se falava? Você sabia que o Congresso, liderado pelo Eduardo Cunha, aquele bandido, votou a ilegalidade das “pedaladas”, que todos os Estados brasileiros e muitos municípios sempre fizeram, apenas para poder perseguir a Dilma? E que ela não tem, até hoje, nenhuma acusação de corrupção contra ela? E que, logo após afastá-la, o mesmo Congresso resolveu dizer que as “pedaladas” na verdade eram legais, e que Temer fez a mesma coisa que Dilma, em valores muito superiores, no fim de 2018, e que isso não foi considerado ilegal? Ué, mas era tão grave ao ponto de permitir a retirada de um presidente? O que aconteceu?

Pois é, pense nisso. Pense como sua mente pode ter sido eventualmente obnubilada por um massacre ideológico (sim, isso é a ideologia: fazer você acreditar naquilo que interessa aos poderosos e assim defender seus interesses sem mesmo perceber), fazendo você se indignar com as “pedaladas” fiscais sem mesmo saber exatamente o que era, e sem perceber que, poucos meses após o afastamento de Dilma, elas não significavam mais nada. Até o motorista do táxi estava indignado com as “pedaladas”. Uma enorme fake new.

Mas vamos continuar. Você me dirá que isso não quer dizer nada. Que o PT de qualquer forma roubou muito em seus governos. Houve corrupção nos governos do PT? É claro que sim! Porque no Brasil a corrupção é endêmica, contamina a máquina pública desde sempre, e qualquer partido que assuma o poder terá de lidar com isso. Porque em qualquer partido há muita gente boa e algumas pessoas ruins, como em toda a sociedade aliás, e que podem sim aproveitar-se de seus cargos para enriquecer. Você irá dizer que não se pode justificar corrupção de uns pela corrupção de outros, mas é importante dar uma googada para saber sobre os escândalos do Sarney ou o das privatizações no governo FHC, corrupção que rendeu mais de um livro, com todo o detalhamento dos esquemas milionários que se forjavam alí. Escreva “compra de votos para reeleição de FHC” e veja o que sai. Escreva “escândalo da Petrobrás 1996 FHC” e veja o que sai. E tire suas conclusões, sobre a corrupção ter sido “só nos governos do PT”.

O que importa na verdade é como os governos atuam contra a corrupção, o que eles fazem contra ela, pois ela é um câncer difícil de ser combatido. E se você for ver isso, vai se surpreender. Vendo que na era FHC foram cerca de 40 ações da PF contra a corrupção, enquanto que na era Lula-Dilma foram cerca de duas mil! Vai se surpreender ao ver que o governo Lula empoderou a Controladoria-Geral da União, criou a lei da transparência, assim como Haddad em São Paulo criou a Controladoria-Geral do Município (imediatamente desmontada pelo Dória), que desbaratinou a máfia dos fiscais. Lula deu autonomia e força à Polícia Federal, assim como ao Ministério Público, como aliás reconheceu o próprio promotor chefe da Lava-Jato! Nos governos do PT se votaram leis contra a corrupção eleitoral, a Ficha Limpa, e assim por diante. Então, por que insistir que o PT fez a maior roubalheira da história do Brasil? Por causa da Petrobrás, que vem dando escândalos há décadas?

Entre no google e pesquise, e verá que a quase totalidade dos políticos acusados de corrupção nos governos petistas eram do PP e do PMDB. Ah, mas esses eram partidos governistas. Sim, assim como eram dos governos Sarney e FHC, sempre gerando problemas, porque no sistema eleitoral brasileiro, infelizmente, ninguém se elege sem fazer alianças, e muitas vezes tem que pagar caro por isso. Coloque no Google “FHC se queixa de corrupção do PMDB” e veja o que sairá. Em suas memórias da presidência, FHC afirma ser impossível governar sem o PMDB ou outros partidos: “seja eu o presidente ou outro que venha a me suceder, ninguém vai poder governar o Brasil sem ampla base de apoio". Já naquela época, em meados dos anos 90, o presidente se deparava com o perfil clientelista e corrupto do partido. Relata ter dito, na época, em reunião sobre a melhor forma de aproximar-se do partido: “É melhor que o PMDB se fortaleça nas mãos de gente que não seja caudilho local, tipo Quércia, ou que não fique na base da corrupção”. O líder de governo de FHC na Câmara, era, aliás....Michel Temer.

A Dilma é quem pode dizer o quanto custa o preço dessas alianças, traída que foi pelo Temer, dizendo combater a corrupção, mas que instaurou um regime de bandidagem generalizada que deixou qualquer coisa anterior no chinelo. Ué, mas o impeachment não tinha sido justamente para acabar com isso? Será que você se deixou enganar? Ou será que não está havendo, no país, uma gigantesca fake new, construída desde o impeachment, para enfraquecer o PT, e na qual você acreditou? Aliás, se o PT é assim tão corrupto, por que o próprio Joaquim Barbosa, o presidente do STF que condenou José Dirceu e meio mundo do PT no mensalão, teria declarado voto, hoje, no Haddad?

Não vou nem comentar o tríplex do Lula, em que na própria peça acusatória consta a aceitação, por parte do juiz acusador, de que as provas não são efetivas, em que o próprio promotor declarou que não havia provas, mas “convicções”, em que claramente o STF vem protelando sua decisão de julgar a legalidade da prisão em segunda instância para não ter que liberar o Lula. Você viu a popularidade do Lula antes das eleições, que lhe davam chances de vencer no primeiro turno? Você não acha estranho terem caprichado tanto na sua perseguição e na construção de acusações justamente quando ele demonstrava poder voltar à presidência, pelo voto, e não pelo tapetão? Nunca passou pela sua cabeça que esta poderia ser mais uma fake new construída para te fazer crer que o Lula é o maior bandido da história do país?

Justo o Lula, que tem tanto apreço pela democracia que, quando saiu do segundo governo com mas de 80% de aprovação, quando todos achavam que ele iria fazer votar uma lei permitindo seu terceiro mandato, ele se recusou em nome do fortalecimento da democracia no país? E você acha coerente que este homem e seu partido sejam ligados à Venezuela (que aliás, nos governos Chavez nunca foi uma ditadura, mas passou por inúmeras eleições), quando sempre demonstraram total respeito pelo jogo democrático? Será que essa acusação não caberia mais ao Aécio, que desdenhou do resultado das urnas e armou para derrubar sua vencedora, ou ao próprio Bolsonaro, que tem vídeos e mais vídeos gravados defendendo o golpe militar, o fechamento do Congresso, a ditadura? Pense um pouco, veja se você não está sendo influenciado mais uma vez.

Mas você pode dizer que não, tudo bem, a questão nem é tanto a “roubalheira”, que parece ter sido mesmo exagerada pela Globo e o resto da turma, mas que o fato é que o PT “afundou o país”. Será mesmo? Quando Luiza Erundina e uma série de outros prefeitos e prefeitas do PT assumiram o governo de muitas cidades do país em 1988, começou o que ficou conhecido como o “modo petista de governar”, marcado pela participação, a mudança de prioridades,a atenção aos mais pobres. Desde então, isso nunca mudou. Em São Paulo, o governo da Marta Suplicy ficou marcado pelos corredores de ônibus, os CEUs, o bilhete único. Em Porto Alegre, o Orçamento Participativo tornou-se um exemplo mundial, adotado mundo afora. Fernando Haddad, em São Paulo, instituiu secretarias inéditas, como a dos direitos das mulheres, a da igualdade racial (tudo depois desmontado pelo Dória), fez um Plano Diretor que ganhou prêmio da ONU, implementou as ciclovias, levou comida orgânica à merenda das escolas, zerou as contas do município fazendo caixa e permitindo a contratação de empréstimos, para citar só algumas coisas. Por que essa insistência que os governos do PT são um horror? Talvez por que a mídia, o Bonner e Cia. tenham martelado isso na sua cabeça há alguns anos sem parar? Não seria aqui mais uma fake new?

Ou então, vai ver que não são os governos municipais, mas a presidência, os governos Lula e Dilma. Sobre o Lula nem vou falar. O fato de Barack Obama ter dito “esse é o cara” referindo-se a ele deveria ser suficiente para colocar uma pulga atrás da orelha não? Poderia ficar aqui apontando números e mais números, como a alta do emprego, o salário mínimo que pulou de 240 Reais para 880, a diminuição da concentração de renda, o aumento do IDH, a diminuição da extrema pobreza de cerca de 10% para 4%, e assim por diante. Poderia citar o número de novos aeroportos, de novas universidades, o crescimento da Petrobrás, a lista é infindável. Mas não precisa. Dê novamente uma googada e verja com seus próprios olhos.

Ah, mas o problema não foi o Lula, foi a Dilma, que afundou o país. Bom, pra começar, se fosse isso, o Temer já teria corrigido isso, não? As coisas não são tão simples. Lula, é fato, tece uma conjuntura internacional favorável, enquanto Dilma pegou em cheio os efeitos da crise mundial de 2009. Pode sim ter feito inúmeras escolhas ruins, como qualquer governo em situação de crise internacional. Daí a dizer que tudo é culpa dela é, de novo, cair em mais uma fake new. Pois o que os jornais nunca falaram é que Dilma foi, em alguns aspectos, muitos mais “de esquerda” do que Lula (se isso importa para você), por exemplo combatendo os bancos, que na era Lula haviam lucrado como nunca (Itau e Bradesco forma os bancos que mais lucraram no mundo, na época). De fato, frente aos juros escorchantes praticados pelos bancos brasileiros (o tal spread bancário), Dilma teve, ainda em 2012 (portanto, bem antes da eleição) a coragem de mandar os bancos públicos praticarem uma taxa de juro MAIS BAIXA, estabelecendo uma concorrência pública ao setor bancário privado, provocando uma guerra com eles. Mas essa “real new” não deve ter chegado até sua televisão. Desde maio daquele ano (leia aqui e aqui), Guido Mantega já enfrentava os bancos para a redução dos juros por eles praticados (leia aqui), o que o levaria a sofrer fortíssima perseguição, com um massacre público pela mídia, como se sabe.

O problema do governo Dilma, como aliás sempre nos lembra Fernando Haddad em suas falas, foi político: não a deixaram governar, desde o dia em que Aécio não aceitou sua derrota. O senador mineiro e sua turma se juntaram ao que havia de pior na bandidagem política (não que Aécio não o fosse, como sabemos), o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que havia sido alçado ao posto também por certa inabilidade do governo Dilma. E Cunha resolveu chantagear a presidente, em troca de se livrar de suas acusações, o que ela NÃO ACEITOU, abrindo caminho para que ele se juntasse de vez ao PSDB e, juntos, trancassem toda e qualquer iniciativa da presidente para governar: congelaram-se os investimentos (o Minha Casa Minha Vida, por exemplo, praticamente parou, e eu sei disso, pois estava na Secretaria de Habitação de São Paulo um pouco depois), recusaram-se as propostas de plebiscito para a reforma política, e todas as medidas econômicas apresentadas pela presidente.

Ocorre que todas essas armações para destruir o PT, que vinha ganhando o jogo democrático pelo voto, abriram espaço para forças muito tenebrosas. Gente que acha bonito falar em matar, que quer a ditadura de volta, que não tem a menor ideia da história. Gente do naipe de um Alexandre Frota, precisa dizer mais? Essas forças, criadas na sombra da grande fake new antipetista, cresceram tanto que acabaram matando seus criadores. O que parecia piada de mal gosto há alguns anos virou uma tragédia anunciada. O PSDB e o PMDB, fomentadores de uma indústria de fake news institucional para derrubar o PT, criaram ao mesmo tempo um escorpião no ombro e, quando menos esperavam, foram picados mortalmente pelo mesmo. Que tomou o seu lugar. Hoje, o partido com a maior bancada é o PT. Apesar de todo esse massacre, ele continua com a força de um partido que se construiu organicamente pelas suas bases, com o apoio do PCdoB, e agora junto com o PSOL, que vem se fortalecendo. A turma do golpe imaginava que depois desses anos construindo essa tremenda enganação sobre o POT, iriam conseguir enfim polarizar contra ele e ganhar, enfim, no voto. Só que não. Foram surpreendidos e comidos pelas forças do mal. Que agora estão aí, a enganar os incautos.

Então, se você realmente está pensando em votar (ou votar nulo, o que dá na mesma) em um sujeito que acha bonito seus filhos terem aprendido a atirar aos 5 anos, que exala preconceito contra mulheres, negros, homossexuais, que despreza a democracia e tudo isso que foi construído no país, por causa do que lhe disseram ser “a roubalheira do PT” que “afundou” o país, eu pergunto. Ainda não há tempo de você pensar uma última vez se, por acaso, você não estaria sendo vítima de uma tremenda, gigantesca FAKE NEW construída há anos e cujos efeitos caíram, de presente, no colo de um maluco?

Pense nisso, e bom voto.