Como ando meio deprimido com a discussão urbana, tanto no âmbito federal quanto no municipal (para não falar da questão da água no âmbito estadual), posto hoje um texto sobre outro tema: o da energia nuclear.
Talvez porque estejamos todos embrenhados nas nossas lutas cotidianas, pouco damos atenção para a discussão sobre a matriz energética brasileira. A ideia de que somos um país privilegiado pelas águas (que está literalmente indo pelo ralo) faz com que achemos que a questão está resolvida com as hidrelétricas, e que se necessário teremos a incrível energia nuclear para "complementar". Por isso, obras como Belomonte ou como Angra 3 - a nova unidade da já patética usina nuclear de Anga - são vistas com bons olhos e geralmente assimiladas a um "desenvolvimentismo necessário".
Porém, a verdade é que a tecnologia nuclear está à beira de um colapso. Se acidentes como o de Chernobyl ficaram meio na surdina, pois ocorreram para além da então existente cortina de ferro (sem contar as centenas de outros acidentes não divulgados na ex-URSS), o advento de Fukushima, em 2011, escancarou para o mundo a extrema fragilidade e o perigo monstruoso dessa tecnologia: milhares de mortos e de condenados à morte nas próximas décadas, contaminados invisível e sorrateiramente por uma irradiação que não deixa marcas, mas "adere" à tudo - água, plantas, ar, poeira - e sai deixando um rastro trágico.
Não bastasse o risco de um acidente pavoroso - como ao colapso dos reservatórios contendo milhares de litros de água contaminada - que provocaria a morte não de milhares, mas sim de milhões de pessoas, a "nuvem" radioativa já afeta uma ampla região no japão, dissimulada a todos custo pelas autoridades.
Como ativista pela cidadania que é, meu pai, Chico Whitaker, lançou-se em essa nova empreitada: fazer ver à população brasileira os perigos dessa tecnologia, e conseguir fazer que o governo abandone a ideia suicida de Angra 3. Muito embora a Alemanha esteja ela mesmo abandonando o nuclear, o acordo de "transferência de tecnologia" para a construção de Angra 3 continua valendo. Para os outros, vale vender um projeto que põe em risco (já o faz com Angra 1 e 2) milhões de moradores da região Sudeste do país.
Meu pai esteve no Japão no ano passado. O relato que trouxe de lá, que em breve estará acessível, é estarrecedor. Há uma operação em curso para esconder uma tragédia sem precedentes, em nome dos interesses políticos do governo e econômicos das empresas implicadas. Um escândalo.
Reproduzo aqui um texto seu, curto e muito didático, sobre a questão do nuclear. Um debate que precisa ser lançado.
João Whitaker
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