Por que a USP não tem faixas de ônibus, ciclovias, e não pode ser usada como parque?
/Um campus universitário como o da USP, em qualquer lugar do mundo, deveria ser integrado à cidade de maneira generosa. Afinal, são 7,5 milhões de m² de área pública. Mesmo que se possa alegar, com certa razão, que ele é destinado ao ensino e à pesquisa, e aos funcionários, professores e estudantes que lá trabalham, não se pode negar que, nos fins de semana e feriados, por exemplo, aquilo se torna uma enorme área verde que poderia, e deveria, servir à população paulistana.
Além disso, como uma área segregado da cidade, e de certa forma protegido (com muros e cercas), ele se torna um espaço muito propício à experimentação de uma série de medidas urbanísticas, que estão sendo implantadas na cidade, e que poderiam ter sido testadas naquele espaço excepcional.
Mas não, a Cidade Universitária da USP não oferece faixas exclusivas para os ônibus, nem sequer conta com um sistema interno eficiente de transporte de massa. Quando da implementação da linha 4 do metrô, ninguém entendeu – e a USP e Metrô jogam a culpa um para o outro – porque não se fez uma estação, senão dentro do campus, ao menos no seu portão de entrada. Uma proposta que existia, e que seria incrivelmente melhor, seria a do metrô atravessar o rio por cima (muito mais barato do que um túnel), “aterrizando” justamente no Portão 1 da Cidade Universitária, de onde poderiam partir os ônibus circulares. Porém, optou-se por um túnel, caríssimo, e uma estação que fica a um quilômetro do portão. Com isso, em vez de melhorar, a chegada do metrô criou um complexo e entravado nó viário, com linhas de ônibus tendo que fazer a ligação estação-campus.
Mas não choremos sobre águas passadas. A USP ainda poderia experimentar ao menos a implementação de faixas exclusivas para os ônibus, agilizando o acesso às suas faculdades. Poderia também testar um sistema de aluguel de bicicletas por todo o campus, e uma rede sistêmica de ciclovias. Nada disso, porém, existe, embora haja notícias de alguns estudos em andamento, sem que, porém, se saiba muito deles.
Tenho boas informações de que a Secretaria de Transportes da Prefeitura de São Paulo estaria disposta a implantar, gratuitamente, tanto as faixas de ônibus quanto as ciclovias. Porém, não encontra sequer interlocutores com poder de decisão para dar andamento a tal cooperação.
A coisa poderia ir mais longe: seria um ganho incrível para a cidade, e uma solução para a polêmica questão da segurança do campus nos fins de semana, se um acordo com a prefeitura permitisse o uso da Cidade Universitária, ou ao menos de parte dela, como parque. A USP tem bosques, áreas de caminhada, grandes extensões gramadas, enfim, um paraíso verde que não deixa a dever a qualquer parque da cidade. A prefeitura poderia facilmente, em troca do seu uso, responsabilizar-se pela segurança, encaminhando para lá unidades da Guarda Civil aos fins de semana, e o Departamento de Parques e Áreas Verdes poderia assegurar parte da manutenção da área, e até equipá-la.
A USP, ou melhor, os que a dirigem, precisam entender que ela não está acima da cidade, mas é parte dela. Que muros e guaritas não protegem um espaço que ganharia se tivesse vitalidade urbana. Que a prioridade ao transporte público pode e deve existir lá também pois, ao contrário do que se difunde, é muito grande e majoritário o contingente de alunos que para lá se deslocam de ônibus. O novo Plano Diretor e a revisão da Lei de Zoneamento poderiam ser uma ótima oportunidade para enfim mudar esse quadro. Depende de um pouco menos de soberba por parte dos seus dirigentes.
Toda a cidade ganharia e, mais do que tudo, a própria USP.