Brumadinho: apenas um "incidente", segundo Zema

Hoje o Governador de Minas, o “eficiente” Zema, do tal Partido Novo, que de novo nada tem, declarou que o rompimento da barragem de Brumadinho foi um “incidente” e que a Vale “reconheceu o erro” (leia aqui a reportagem da Fórum)

Em homenagem às vítimas desse “incidente”, publico aqui um vídeo feito pelo Pedro Junqueira e dois amigos, jovens estudantes que foram para lá para solidarizar-se, no âmbito do OPA — Observatório Popular dos Atingidos no Quadrilátero Ferrífero . Um retrato dos que vivem de fato a tragédia que o tal governador finge ignorar.

Uma das características clássicas dos "homens de negócio", os "gestores eficientes", é que eles são forjados pela lógica competitiva e predadora do capitalismo. Nos seus bancos, nas suas empresas, são donos ou tornaram-se CEOs na base da insensibilidade, das demissões insensíveis, muitas vezes pisando, ao longo da carreira, nos colegas mais próximos, competidores perigosos. Essa é a lógica. Não há compaixão. No documentário "The Corporation", em um trecho sobre os atentados às Torres Gêmeas, me marcou a fala de um investidor da bolsa de NY. Sem a precisão da transcrição, ele disse mais ou menos o seguinte: "quando vi as torres caindo, não me importava se havia ou não mortos, o que pensei na hora era - meu Deus, o preço do ouro vai explodir, há gente que vai lucrar muito com isso".

Quando esses "jestores", e temos o nosso aqui em SP resolvem ir para a política, estão certos de que irão transferir para o mundo da governança os seus métodos empresariais, por mais duros que sejam, acreditando na sua eficácia.

Se enganam em duas coisas: a primeira, de que a administração pública é comparável à gestão de uma empresa, quando na verdade, em quase tudo, ela segue parâmetros justamente opostos. Um exemplo: algo que no mundo empresarial é chamado de "déficit", no mundo da gestão pública, muitas vezes, equivale a investimentos públicos sem retorno lucrativo.

Como não dão lucro, são vistos como "deficitários". Sistema de transporte deficitário, educação deficitária, previdência deficitária, são expressões comuns por parte desses sujeitos e seus asseclas da imprensa, "especialistas" em economia como um Sardemberg. Ora, colocar mais ônibus nas ruas, mais escolas, subsidiar o bem estar da população quando se aposenta, não é jogar dinheiro fora, mas sim investir no desenvolvimento da sociedade. Uma coisa é bem diferente da outra. O setor privado pensa pela lógica do lucro, e o setor público funciona pela lógica dos investimentos públicos. Podem ser negativos agora, mas renderão efeitos infinitamente positivos no futuro.

O segundo engano desses senhores é tratar a coisa pública, que na verdade nada mais é do que as pessoas, os cidadãos, como se fossem dados numéricos de seus gráficos e suas tabelas. Chamar o crime humano e ambiental de Brumadinho de "incidente" é algo não só eticamente monstruoso, como um crime em si. Chamar de "incidente" um acontecimento que matou talvez mais de 300 pessoas é ignóbil, monstruoso.

Mas acredito que as elites, as que bateram panela, as que exibem seu patriotismo na camiseta da seleção, talvez não se importem tampouco com a tragédia humana, quando esta afeta os mais pobres. Talvez nem mesmo com a questão ambiental.

O que estes senhores não perceberam é a grande diferença entre eles, os portadores do saber da "eficiência", e os que realmente sabem entender, sentir e responder aos anseios populares. Dessas pessoas que morrem em "incidentes". É por isso talvez só por isso, que um sujeito como o Lula fez um governo perto do qual eles não chegam perto. O jeito, então, é desqualificar e até prender o sujeito e sua gestão.

Acontece que a mentira tem pernas curtas. Não desejo nada a esse governador senão o mais profundo desprezo por parte do seu povo. Que, certamente, chegará.

Desde o rompimento criminoso da barragem no Córrego do Feijão, distrito do município de Brumadinho, no dia 25/01/2019, quatro comunidades quilombolas munícipes seguem ilhadas do centro urbano. O avanço dos rejeitos tóxicos da mineradora Vale impede-os de acessar os serviços básicos que garantem sua sobrevivência.