A tragédia da indiferença
/O mais assustador do atual momento que estamos vivendo no Brasil, para mim, talvez não seja o processo de destruição da justiça e da Constituição em si, mas a indiferença frente a ele. Uma indiferença cuidadosamente alimentada pelos artífices deste grande golpe que o país vem sofrendo, por meio, é claro, do instrumento da mídia.
Esta semana ocorreu um novo evento cuja dimensão trágica, como de hábito, é solenemente ignorada. Um homem atirou contra o acampamento Lula Livre em Curitiba, ferindo duas pessoas, uma delas no pescoço, que não morreu por milagre.
O aterrador desse episódio é que as balas, mais uma vez, são aquelas de uso exclusivo das forças armadas e da PF. As mesmas que mataram Marielle, e que haviam sido usadas antes numa chacina contra jovens negros de periferia, em São Paulo. Se o assassinato de Marielle teve grande impacto, inclusive internacional, que forçou a mídia a noticiá-lo, a chacina anterior, em compensação, havia sido pouco falada. Como é pouco falado o genocídio de jovens negros nas nossas periferias que chega mais de 20 mil mortes por ano, fenômeno apontado pela pesquisadora Claudia Adão em sua dissertação pela EACH-USP (para se ter uma ideia, a Guerra do Vietnã matou 6 mil jovens soldados americanos por ano).
Pouco se fala desse genocídio, assim como do atentado contra o acampamento do Lula, que sequer foi noticiado pela poderosa (e golpista) Globo. Quando tragédias desse nível de gravidade simplesmente não são pautadas pela mídia dominante, não só estamos assistindo ao fim do jornalismo no país, como devemos nos perguntar qual é esse caminho obscuro pelo qual estão nos levando.
O fato de termos três atentados com utilização de armamentos exclusivos das forças armadas e policiais, todos eles visando massacrar a população pobre e/ou ativistas de esquerda, nos remete assustadoramente à época dos “esquadrões da morte”. Estaríamos frente a uma nova organização desse tipo, atuando em vários Estados, de forma absolutamente desenvolta e impune? Esperemos que isso seja uma ilação vazia. Mas, no mínimo, a associação desses fatos deveria ter provocado uma grande comoção nacional, e deveria mais ainda ter gerado investigações jornalísticas e manchetes. E, mais ainda, uma mobilização efetiva e clara do Poder Judiciário face à possibilidade de retorno de métodos e eventos que marcaram os anos mais sombrios deste país.
Mas não, nada disso de fato ocorreu, exceto evidentemente nas mídias sociais alternativas, e pouco se fala dessas estranhas relações que remetem ao passado totalitário nas universidades, nos bares, etc. A grande mídia dá pouca atenção ao caso, não há nenhum ímpeto investigativo sobre o assunto. O genocídio de jovens foi colocado debaixo do tapete já na época do massacre de maio de 2006 (quando 564 pessoas foram mortas em SP), a morte da Marielle já começa a cair no esquecimento, e o atentado aos apoiadores de Lula, assim como os tiros dados na sua caravana alguns meses antes, sequer mereceram destaque jornalístico.
Por detrás desses eventos, surge o que há de mais perverso, doentio e imoral na nossa sociedade: a manifestação sem qualquer autocensura dos pensamentos de extrema-direita, beirando o fascismo explícito. As “Mães de Maio” que choram seus filhos assassinados desde 2006 são tratadas de loucas, vistas não como vítimas, mas “culpadas” por serem “mães de bandidos” que, no fundo, na visão dessa gente, mereciam mesmo a morte. Marielle é acusada por uma desembargadora – sim, uma desembargadora – de ser amante de traficante e envolvida com o tráfico, uma maneira de fazer entender que, afinal, ela “merecia” as balas que levou. Outros saíram imediatamente acusando-a de “defender bandidos” sem saber o quanto ela trabalhava por todas as vítimas da violência carioca, inclusive das mulheres policiais assassinadas.
No caso do atentado contra o ônibus de Lula, soube-se quem foi. Militantes pró Bolsonaro, mas isso não gerou nenhuma comoção. Pelo contrário, o governador de São Paulo até sentiu-se à vontade para dizer que era merecido: “os petistas estão colhendo o que plantaram”. O recado é sempre o mesmo: é aceitável, no Brasil, achar que há quem mereça receber bala na rua. Isso é dito por ninguém menos do que um governador de Estado. Hoje é normal para petistas, amanhã será para qualquer um. Aliás, talvez já estejamos nesse ponto, tal a indiferença geral sobre a magnitude dos casos de balas perdidas que matam, no Rio, até crianças. Mas, afinal, são todos pobres, pretos e favelados, não há necessidade de maior comoção.
Passou também quase sem comentários – e sem nenhuma investigação jornalística maior – a interferência no radio do avião de Lula, mandado jogá-lo de lá de cima. Não assusta que fossem carros oficiais, a maioria da polícia, que estavam nas cercanias dos aeroportos, com rádios VHF capazes de captar a frequência das torres? Não mereceria uma investigação mais profunda, de detalhes que nos relembram, sem cerimônia, práticas comuns da ditadura (jogar gente de aviões)? Desse episódio dá-se um pequeno passo para permitir, com a mesma falta de reação pública, que um Chefe do Estado Maior ameace impunemente com um golpe militar. Os limites do “aceitável”, à medida que vão sendo afrouxados, permitem o surgimento de monstros ainda maiores.
No último evento, dos tiros contra o acampamento, o assassino saiu andando, agindo com um profissionalismo assustador, de quem sabia o que estava fazendo. Como no caso Marielle. Mas a mídia faz pouco caso do assunto pois, afinal, trata-se de malucos esquerdistas que acham que podem fazer bagunça só porque gostam do Lula. No fundo, quer o pensamento dominante, eles também merecem. Se os fatos em si são assustadores e já deveriam gerar enorme comoção nacional, mais assustador ainda é o nível das reações, fascistas, ignóbeis, preconceituosas e escancaradas sem pudor que não recebem uma indignação pública à altura. Hoje é aceitável matar Lulista, amanhã voltará a ser aceitável matar gays, transexuais, queimar moradores de rua, como já aconteceu num passado nem tão distante que, curiosamente, os avanços da “era Lula” permitiram que começássemos a superar.
Pois o maior perigo da indiferença – calculadamente alimentada, é verdade, pelas pautas seletivas e enviesadas dos jornalões – é que ele abre as portas para coisas mais obscuras. Já que ninguém parece se indignar com alguns fatos, certamente não se indignarão tampouco com algumas falas. E, assim, as vozes do fascismo mais enraizado começam a se fazer ouvir. Também na maior indiferença.
Esse cinismo generalizado vem sendo cuidadosamente construído, desde quando começou a farsa do “impeachment”, liderada por um corrupto notório que se fez Presidente da Câmara também sem gerar reações nem da mídia nem na sociedade, e ao longo de todos os eventos que se sucederam. Goste-se da Dilma ou não, o fato do Congresso ter simplesmente legalizado o “crime” das pedaladas fiscais – que supostamente era grave o suficiente para permitir o afastamento de uma Chefe de Estado – para permitir que Temer “pedalasse” um ano depois sem o menor constrangimento e sem nenhuma consequência, escancarou uma farsa que, em qualquer lugar, deveria gerar enorme reação na mídia e na sociedade. Mas aqui, não, pelo contrário, abafou-se o caso, e abriu-se mais espaço para ataques pessoais, homofóbicos e preconceituosos, contra a presidente deposta. Afinal, culpada ou não, as pedaladas sendo ou não uma farsa, ela “merecia”, “ela é mulher”, “não sabe falar”, esse é o recado.
A continuação foi uma degringolada, especialmente na forma como o Juiz Moro foi ganhando confiança e espaço para tocar por conta própria uma justiça particular que hoje, enfrenta também sem constrangimentos o próprio STF. Sem que ninguém pareça indignar-se mais do que o normal. Afinal, no Brasil vale tudo, sobretudo se quem faz for um juiz. É por isso que os juízes gozam em toda “legalidade”, há anos, de auxílios imorais, uso corrupto de dinheiro público, para pagar suas casas e outras “necessidades”, obtendo com isso salários inconstitucionais (porque acima do teto presidencial). Moro chega a receber mais de cem mil Reais por mês, e ninguém se indigna com isso. Afinal, ele é juiz, é branco, e rico. Assim como se espalharam pelo Brasil os horrorosos condomínios fechados, ilegais pela lei de parcelamento de terra: porque invariavelmente, moral neles os juízes e demais autoridades das cidades em que se situam.
Esse cenário de absoluta impunidade nas ações dos poderosos, e em especial do Poder Judiciário, é que leva um Moro a autorizar sem constrangimento grampos ilegais na casa da então presidente, e liberar os mesmos de forma ainda mais ilegal para a poderosa Globo, com o intuito escancarado de tomar parte na disputa que deveria julgar, alimentando a farsa de que seria “ilegal” Lula assumir um ministério “por ser investigado”. Uma balela jurídica sem precedentes, alimentada por um juiz. Mas isso é normal. “Ilegalidade” tão frágil que se por um lado foi aceita sem questionamentos para impedir Lula de assumir, não foi sequer lembrada hoje quando todos os ministros (e o próprio presidente), são todos eles investigados. Ué, mas pode? O recado mais uma vez é claro. Pode para alguns. Mas Lula e Dilma, e o PT, “merecem” o tratamento diferenciado.
A porteira se abriu. E passou a ser “normal” o tratamento diferenciado, às margens da lei, para tudo e todos que os poderosos e sua poderosa mídia decidissem atacar. Permitiu-se que prisões preventivas se tornassem definitivas, permitiu-se que delações fossem “obtidas” por meio da prisão ilegal – uma forma moderna de tortura –, permitiu-se, até, que um juiz forçasse a barra montando contra Lula um dossiê de acusações improváveis e não provadas. Permitiu-se que valessem apenas “convicções”, permitiu-se que um inquérito ignorasse avisos da própria PF de que eram duvidosos os valores indicados pelo juiz na suposta reforma do tríplex. Tudo na maior indiferença. Ou pior, com o apoio explícito do STF, que hoje amarga, ele também, as consequências da sua indiferença, quando Moro simplesmente desobedece as ordens da instância superior. Tudo sem merecer uma linha de dúvida por parte do nosso “jornalismo” oficial (não falo aqui dos combatentes blogueiros alternativos, evidentemente). Tudo no meio a uma certa indiferença de todos, e sob as vaias ensandecidas de uma direita radical, protofascista, cada vem menos incomodada em bater panelas quando lhe convém e falar o que pensa, mesmo que argumentos racistas, preconceituosos, elitistas, frente à indiferença da maioria também para com o que eles fazem.
O que tem que ser percebido é a maneira como, sorrateiramente, a cada renúncia à indignação quanto a um ato, um gesto, uma fala, uma decisão judicial, abrem-se as portas para indiferenças maiores, e mais graves. Poucos se importaram de fato quando uma elite desavergonhada mandou sua presidente “tomar no cu” na Copa das Confederações, em uma vitrine para o mundo de como era o seu odioso comportamento. Essa indiferença, entre tantas outras, por parte da sociedade mas também da mídia – que constrói e manipula boa parte da opinião pública –, alimentou certamente a indiferença quando um Deputado – que vem a ser hoje candidato a Presidente – fala para sua colega, mulher, que “não a estupra porque é feia”. O pior da não-indignação é que não só ela rebaixa nossos parâmetros de civilidade como permite que se expressem valores que deveriam ser sujeitos à perseguição criminal, mas que se tornam, no Brasil de hoje, corriqueiros e até aplaudidos. Há um passo, pequeno, entre os que pouco se importaram que uma Deputada seja tratada dessa forma e os que acusam Marielle de ser amante de traficante. Há um passo pequeno, entre eles e os que aceitaram que se matassem judeus. O que assusta é a forma como se sobem os degraus da intolerância sem que ninguém, no fim das contas, faça nada.
Os exemplos são infindáveis. Quando se permite que Moro leve Lula por condução coercitiva quando, legalmente, ele tinha direito a ser antes convocado a depor, parte da sociedade não só aplaudiu o ato como sentiu a liberdade de explicitar que era mais do que merecido. Isso abriu as portas para que, depois, reitores de Universidades Federais fossem, ao invés de simplesmente convidados a depor, como a lei lhes assegurava, conduzidos à prisão por causa de acusações administrativas insignificantes, em operações militares desproporcionais e estranhamente “vazadas” de antemão à grande mídia. Estava claro que se tentava ali desmoralizar as universidades públicas brasileiras, tão brilhantemente reerguidas pelo governo Lula. Mas reinou a já contumaz indiferença geral. Até mesmo quando um desses reitores, não resistindo à tamanha humilhação, suicidou-se. Pairou um silencio ensurdecedor.
Tudo isso leva a que, como fora cuidadosamente planejado, a prisão de Lula caia na indiferença geral. Só que não, as coisas nem sempre acontecem como previsto, e apesar de toda a estratégia, parece que os resultados não são os esperados. Lula, apesar de tudo, sobe nas pesquisas. Isso só leva a mais uma escalada do escancaramento geral. O que será preciso fazer, mesmo que ilegal? O que será preciso tolerar, o que será necessário dizer mesmo que imoral? Qual o tamanho das panelas a bater? Qual o limite para sair atirando a esmo por ai? Afinal, estão todos “colhendo o que plantaram”?
Essa trágica indiferença, que leva à falta absoluta de indignação face à destruição sem precedentes dos valores da democracia, que se vão pelo ralo à medida que se ampliam as vozes explícitas da intolerância e do autoritarismo, foi também cuidadosamente alimentada com o discurso simplificador do “flá-flu”. De repente, falar em política, indignar-se com os fatos, alertar para os perigos do desrespeito às leis e à constituição por parte do próprio judiciário, gritar contra a volta do autoritarismo explícito, tornou-se um gesto de radicais, tornou-se um “mimimi” de insatisfeitos esquerdistas incapazes de aceitar “a derrota que merecem”, tornou-se coisa de quem transforma tudo em “Flá-Flu”. Afinal, meus caros, é coisa de fanático terminar “amizades” facebooquianas por causa de política. “Também não é para tanto”, isso é, no fundo, coisa de radicais, dos defensores da balbúrdia, que se importam demais com política. No fundo, dos que merecem levar bala, se for o caso. Estamos a um passo da barbárie, tudo na maior indiferença.
O interessante é que estamos vivendo esse recuo assustador na política e nos comportamentos sociais ao mesmo tempo em que a juventude empunha novas e necessárias bandeiras com uma força e um espaço que nunca tiveram antes. A luta contra o racismo, a homofobia, o machismo, o preconceito, tornam-se cada vez mais fortes e presentes no universo das novas gerações. Talvez porque (e não sei isso elas percebem) puderam construir esse importante discurso libertário justamente ao longo dos anos da “era Lula”, graças a seus avanços. Assim, ao mesmo tempo em que a barbárie se aproxima, por um lado, por outro lado ventos de liberdade e igualdade parecem soprar com força, o que é alentador.
Porém, dia desses ouvi um jovem, militante aguerrido dessas novas causas, mostrar-se indiferente à política nacional e ao desmonte da democracia. O quanto se indignava e combatia questões graves como a homofobia ou o racismo, era desproporcional ao quanto não parecia se importar com os rumos das questões políticas nacionais. Me disse que não dava para cair no “Flá-Flu”, e que preferia não reagir solidariamente à minha profunda indignação com o que estava ocorrendo no país. Seria, na sua visão, uma posição da minha geração, que viveu a ascensão do PT e o seu governo, e estava agora perdendo o jogo, um jogo político dos partidos tradicionais, que havia caído em uma polarização superficial, e que não merecia maior atenção.
É claro que estes são minoria. Porém, ainda acho que parte da juventude, por mais que esteja ativa em torno de algumas causas, participa também da trágica indiferença geral quanto aos rumos da política, quanto aos eventos gravíssimos que a mídia esconde, contra os atos cada vez mais frequentes de autoritarismo, quanto ao sentido verdadeiramente preocupante que tomou – aproveitando-se perversamente da justa causa do combate à corrupção – a perseguição ao Lula. O problema disso é de não juntar uma coisa com a outra. Não perceber que, em médio prazo, a destruição das estruturas da democracia, dos valores tão duramente conquistados desde a redemocratização do país, irá abater-se com toda força sobre as causas libertárias que se defende. Que a indiferença em relação ao algo maior irá inevitavelmente dar força àqueles que, logo mais, na maior impunidade, no meio à indiferença geral, irão cair com toda sua força destruidora sobre os sonhos dos mais jovens quanto à uma sociedade mais justa, mais solidária, mais democrática.
Aquele que hoje manda matar o Lula, aquele que diz não estuprar mulher porque é feia, já tem o seu representante despontando em segundo lugar nas pesquisas presidenciais, e é o mesmo que se deixarem irá dizer que também é normal matar negros, gays e mulheres. Quanto mais indiferença, mais espaço se dá para a ascensão do atraso. E quando conseguirem finalizar o seu projeto, não haverá mais parâmetros capazes de censurar seus atos. Daí, será tarde demais, até para defender os direitos mais básicos ainda não conquistados. Um país que ignora quando a lei passa a não valer para alguns, porque esses alguns são políticos de um imaginário “Flá-Flu”, não terá nenhum problema em aceitar que a lei passe a ser ignorada também para todos e qualquer um que venha com um discurso ou com atitudes “libertárias”. Qualquer que seja ele. Por sorte, movimentos de juventude mostram que há muitos jovens que se deram conta do perigo.
Em 2010, um filósofo francês de 93 anos, Stéphane Hessel, ex-resistente da Segunda Guerra, publicou um livrinho-manifesto chamado “Indignem-se!”. Apoiando-se no conceito sartriano do necessário engajamento pessoal, o autor, poucos anos antes de sua morte, clamava os franceses a não aceitar indiferentemente as políticas de direita contra imigrantes, as ações nefastas do capital financeiro, a destruição ambiental do planeta, a situação da Palestina, as desigualdades crescentes no mundo, e assim por diante. A indignação, para o intelectual francês, é o “fermento do espírito de resistência”. Para ele, frente à “passividade do povo”, a indignação “é um dever”. O livro foi traduzido em 34 línguas, com 4 milhões de exemplares vendidos.
E claro que nossa indiferença individual muitas vezes não é intencional. Muitos se sentem, senão indignados, profundamente inquietos, preocupados. E esgotados de sentir que sua aparente passividade esconde um profundo incômodo pessoa., que não te por onde se expressar. Estamos, talvez, anestesiados. Porque a indiferença destruidora é antes de tudo um fenômeno coletivo, social. Cuidadosamente construído e provocado pelos poderes dominantes, com o uso da mídia. É mais do que urgente repensar a indiferença. É mais do que urgente indignar-se. pessoalmente, em cada espaço que temos, para nos manifestar, para quebrar a anestesia coletiva.